Nestes últimos tempos temos deparado com muita
polêmica sobre a prática do jejum no cristianismo, ou seja, se
o cristão deve ou não jejuar? A falta de um esclarecimento
explícito do Evangelho, nestes últimos dias, tem levado o
povo à sacrifícios que não têm nada a ver com a salvação
pela Graça de Cristo; como é o caso do jejum.
Porém, as Sagradas Escrituras deixam bem claro que a
salvação pela graça que vem por Cristo Jesus, não só salva,
mas também liberta da prática do jejum.
O sacrifício do cristão oferecido a Deus não vem pela
penitência da carne, mas pela mente, é pura fé, é espiritual
(é racional), conforme esclarece o apóstolo Paulo, quando diz:
“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que
apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus, que é o vosso culto racional”
Romanos 12. 1
O nosso culto a Deus deve ser racional; e isto não
requer sacrifício da carne, mais sim, sacrifício vivo. Existem
obras vivas e obras mortas, conforme esclarece o escritor aos
hebreus, quando diz: “Porque, se o sangue dos touros e
bodes, e a cinza de uma novilha espargida sobre os imundos,
os santifica, quanto à purificação da carne, quanto mais o
sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si
mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências
das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?”
Hebreus 9. 13-14
As obras mortas que o escritor aos hebreus se refere,
são exatamente as obras da carne oferecidas a Deus, as quais
já cessaram com a realização da obra de Redenção que Cristo
realizou por nós, cravando-as na Cruz; foi quando Jesus
referiu-se ao Antigo Concerto (cujas obras da carne
oferecidas a Deus faziam parte), dizendo:
“Está Consumado”.
A prática do jejum alimentar só se encontra na Bíblia
até o capítulo 15 de Atos; porque até ali os discípulos ainda
não tinham total conhecimento da salvação pela Graça que há
em Cristo Jesus. Pois só a partir da grande reunião, registrada
no capítulo 15 de Atos, quando naquela grande e famosa
assembleia, realizada em Jerusalém, os discípulos foram
ensinados pelo Espírito Santo que deveriam servir a Deus em
liberdade de espírito, sem os rudimentos do antigo pacto
Atos 15. 1-20
Foi ali que os discípulos, pelo Espírito Santo,
ampliaram seus conhecimentos sobre a salvação pela Graça
de Cristo, entendendo assim toda a verdade do Evangelho,
para que se cumprisse as palavras de Jesus quando declarou:
“tenho muito que vos dizer, mas vos não podeis suportar
agora, mas, quando vier Aquele Espírito de verdade, Ele vos
guiará em toda a verdade”
João 16. 12-13
Aquele que jejua para realizar a obra de Deus, está
querendo realizar a obra em seu próprio nome (em nome da
carne, isto é, em nome do jejum), e não em nome de Jesus;
porque não age totalmente pela fé no nome de Jesus, mas sim
pela força da carne (pelo poder do jejum), pela confiança que
está preparado na carne. Ele usa o poder do jejum para
auxiliar o poder da fé. Tanto que se não jejuar ele teme não
ter poder para expulsar demônio, curar enfermos, ou realizar
qualquer outra obra de Deus. Porém, a confiança na carne
significa o fracasso da fé no nome de Jesus. Não disse o
apóstolo Paulo que é pela fé, para que ninguém se glorie?... E
que os que confiam na carne, não podem agradar a Deus?...
Então, se é por pura fé, já não pode ser auxiliado pela força
do jejum. Do contrário, estaríamos declarando que só o poder
da fé no nome de Jesus não funciona. Aliás, estaríamos
contrariando a declaração do próprio Jesus, que disse:
“E estes sinais seguirão aos que crerem:
“Em meu nome” expulsarão os demônios;
falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e,
se beberem alguma coisa mortífera,
não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão”
Marcos 16. 17-18
Não se pode associar o poder da fé no nome de Jesus
à barriga vazia. Até porque, os demônios não têm medo de
barriga vazia; mas eles têm medo é da força da fé de um
cristão lavado e purificado pelo sangue de Jesus.
Aquele que está com Cristo não precisa jejuar. Isto
Jesus deixou bem claro, quando os discípulos de João
fizeram-Lhe a seguinte pergunta:
“Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?”
Então Jesus, se referindo à cristãos
(ao povo que está com Ele, aos convidados as bodas), respondeu-lhes dizendo:
“Podem porventura andar tristes os filhos das bodas,
enquanto o esposo está com eles?
Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”
Mateus 9. 14-15;
“Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias”
Marcos 2. 20
Nestes versículos Jesus deixa bem claro que o jejum é
sinal de tristeza, e que aquele que está com Ele não pode
andar triste. Ora, se Ele nos enviou o Espírito Santo como
Sua presença viva em nós, como então podemos andar
tristes? Por outro lado, a recomendação dos discípulos para
um cristão triste (depois que aprenderam, pelo Espírito Santo,
tudo sobre a Graça de Cristo),
não é para jejuar, mas sim para orar: “aquele que está triste, ore”
Tiago 5. 13
Observem que quando Jesus disse:
“Dias, porém, virão, em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”;
Ele estava se referindo aos dias da Sua ausência pela Sua
morte até a Sua presença definitiva pelo Espírito Santo que
prometera, O qual os discípulos receberam no dia de
pentecostes, que significa a presença viva de Jesus na vida
daqueles que O recebem. Por isto já havia dito: “Não vos
deixarei órfãos; voltarei para vós” e também:
“e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”
E ainda:
“Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós”.
Pois Jesus já havia previsto a tristeza dos discípulos
devido a Sua ausência pela Sua morte, e também a alegria
deles pela Sua presença definitiva pelo Espírito Santo que
prometera; por isto também disse: “Na verdade, na verdade
vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se
alegrará, e vós estareis tristes (eram os dias do jejum; dias de
tristeza) mas a vossa tristeza se converterá em alegria”
(quando não deveriam mais jejuar, porque seria somente alegria).
Muitos até dizem: “mas eu me sinto bem após o jejum”.
Porém, o fato de alguém se sentir bem
espiritualmente após o jejum, é simplesmente porque
ninguém jejua sem o acompanhamento de oração; e na
verdade, o que fortalece a espiritualidade, é a oração e não o
jejum. Eu costumo citar o exemplo de uma pessoa íntima da
família, de saudosa memória, que fazia um benzimento,
segundo a crença popular, pelas crianças que sofriam com
arca caída (espinhela caída). Benzimento esse, acompanhado
de uma massagem, que geralmente as curava; porém, todos
atribuíam a virtude da cura ao benzimento. Mas um dia ela
converteu-se ao Evangelho de Cristo, e então parou com o
benzimento, passando a fazer somente a massagem; contudo,
a cura continuou acontecendo; foi quando se descobriu que o
benzimento não tinha valor algum, porque na verdade, o que
curava era apenas o efeito da massagem.
Assim também é o caso do jejum acompanhado de oração;
o jejum não tem nenhuma virtude espiritual no cristianismo,
mas sim a oração feita com um coração quebrantado diante de Deus.
Alguém pode dizer:
“mas Jesus ensinou o povo a jejuar, ao dizer:
E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas;
porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareçam que jejuam.
Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão; tu,
porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu
rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu
Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te
recompensará publicamente”
Mateus 6. 16-18
Quero salientar que Jesus, neste caso, não estava
determinando o jejum ao cristianismo, mas sim esclarecendo
sobre a verdadeira prática da Lei, isso é, como ela deveria ser
cumprida.
Porque, na verdade, Jesus nunca condenou a perfeita
prática da Lei, mas sim a imperfeição no cumprimento dela.
O que Jesus condenava era a atitude daqueles que, sem
capacidade (em pleno estado de miséria), se apresentavam
como cumpridores da Lei. Jesus considerava isso uma
hipocrisia. Por isso Ele recomendava, para os tais, serem
perfeitos no cumprimento de toda a Lei que eles persistiam
em guardar; conforme certo dia falou: “Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o
cominho, e desprezais o mais importante da lei” (Mt 23.23).
Inclusive, Jesus para cumprir a Lei, teve que praticar e
pregar todas as obras da Lei; pois como Jesus poderia
cumprir a Lei, se não estivesse de acordo com a circuncisão,
com o jejum, com a guarda do sábado, e com toda a Lei dos
mandamentos, se Ele veio exatamente para cumpri-la? Como
Jesus poderia cumprir tais obras, discordando com elas?
Porque também, jamais os discípulos iriam entender tal
situação, pois iriam observar Jesus fazendo exatamente
aquilo que discordava. Por isso que Jesus disse:
“Tenho muito que vos dizer, mas vós não podeis suportar agora,
mas quando vier o Espírito de Verdade,
Ele vos guiará em toda verdade”.
Aliás, Jesus não só ensinou como deveria ser
praticado o jejum, mas também ensinou a cumprir toda a Lei
de Moisés, inclusive, como se portar diante do altar das ofertas para os sacrifícios,
ao dizer:
“Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem
alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta,
e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e
apresenta a tua oferta”
Mateus 5. 23
Vale ressaltar que Jesus não determinava essas obras
da Lei para os cristãos, Ele apenas ensinava o povo como elas
deveriam ser feitas para o perfeito cumprimento da Lei.
Tanto que Jesus não ordenava o jejum aos Seus discípulos.
Por isso foi questionado com a seguinte pergunta:
“Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes,
e os teus discípulos não jejuam?”
Porque Jesus não determinava o jejum para aqueles
que entrariam no Reino dos Céus pela Sua Graça.
E sobre a tão polêmica frase: “Esta casta de demônio
não se expulsa senão pela oração e jejum”,
passaremos a examinar a seguir:
E, repreendeu Jesus o demônio, que saiu dele, e desde
aquela hora o menino sarou.
Então os discípulos, aproximando-se de Jesus em
particular, disseram: Por que não pudemos nós
expulsá-lo? E Jesus lhes disse:
POR CAUSA DE VOSSA POUCA FÉ;
porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda,
direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar;
e nada vos será impossível.
MAS ESTA CASTA DE DEMÔNIOS NÃO SE
EXPULSA SENÃO PELA ORAÇÃO E PELO JEJUM
Mateus 17. 19-21
Esta última frase se referindo ao jejum, segundo os
teólogos e estudiosos da Bíblia, foi acrescentada pela igreja
medieval entre o segundo e o quarto século; época em que a
igreja havia decaído da Graça de Deus.
A frase, possivelmente, foi uma suposição apócrifa
inserida sem bases, para respaldar alguma prática de
mandamento carnal. E isto tem muito fundamento; primeiro,
porque nos melhores manuscritos, inclusive nos textos mais
antigos já encontrados do Evangelho de Marcos, tal frase não
é encontrada. Aliás, as Bíblias revisadas e corrigidas,
inclusive a Almeida, comprovam isto. Por isto que elas
trazem os colchetes sobre a expressão referente ao jejum.
Segundo, porque entra em contradição com o contexto
antecedente; pois no versículo anterior Jesus havia dito que
os discípulos não expulsaram o demônio por falta de fé! Ora,
se fosse pela obra do jejum, já não seria pela fé!
Como disse o apóstolo Paulo:
“Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça”
Romanos 11. 6
Terceiro, porque não existe casta de
demônios para desafiar o poder da fé no nome de Jesus; pois
o poder da fé não precisa ser auxiliado pelo jejum. Quarto,
porque por orientação de Jesus os Seus discípulos não
jejuavam; isto está mais do que provado em Mateus, 9.14-15,
quando os discípulos de João cobraram isso de Jesus, dizendo:
“Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes,
e os teus discípulos não jejuam? ”
Então Jesus respondeu-lhes
dizendo: “Podem porventura andar tristes os filhos das
bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão,
em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”.
E Também, quando Jesus enviou os Seus discípulos
para realizar a obra de Deus, Ele não determinou o jejum de
três dias, como muitos dizem, mas sim determinou que
comessem e bebessem, conforme está escrito: “E ficai na
mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois
digno é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em
casa; e, em qualquer cidade em que entrardes, e vos
receberem, comei do que vos for oferecido; e curai os
enfermos que nela houver, e dizei-lhes:
É chegado a vós o reino de Deus”
Lucas 10. 7-9
E os discípulos então, de barriga cheia, agiram com
tanto poder (inclusive sobre os demônios), que Jesus chegou a dizer:
“Eu via Satanás, como raio, cair do céu”
Lucas 10. 18
Quem acrescentou a frase do jejum no texto em
questão, cometeu um erro grosseiro; pois nem importou-se
com o que Jesus havia dito no contexto antecedente.
Observemos que quando Jesus foi perguntado sobre a causa
que negativou a ação dos discípulos na expulsão do demônio,
Ele citou apenas a falta de fé; apenas um fator, ao dizer:
“Por causa da vossa pouca fé”.
É evidente que a prática do jejum, no contexto do
Evangelho, entra em contradição com a resposta de Jesus.
Isto nos dá a certeza de que tal frase não faz parte do
Evangelho de Cristo.
Concluo este texto recitando a resposta de Jesus quando Lhe perguntaram:
“por que os Seus discípulos não jejuavam?”
“Podem porventura andar tristes os filhos das bodas,
enquanto o esposo está com eles?”.
Amém.
Paz seja com todos.
JC de Araújo Jorge
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