Como já temos observado nos capítulos anteriores,
as obras legalistas, inclusive a devolução do dízimo, não
se enquadram na prática do verdadeiro cristianismo.
Então, como deve o cristão proceder para
contribuir financeiramente com a obra de Deus? Levando
ofertas em justiça, o que propuser no seu coração, isto de
boa mente e com alegria, tendo consciência de que a obra
de Deus carece da sua colaboração; sabendo ainda que se,
espontaneamente (independente de percentual), não tiver
desejo de render algo à causa de Deus, sua regeneração
em Cristo fica em dúvida.
Para que fim irá o cristão contribuir? Desde que se
entenda que a contribuição passa pela lei da liberdade que
há em Cristo Jesus, sem dúvida a responsabilidade do
cristão cai ainda mais sobre os seus ombros; porque terá
de provar para si mesmo, qual é o seu amor pelo Senhor e
Sua obra. Pois está escrito: “Não ameis em palavras, mas
por obras e em verdade” (1 Jo 3.18). O verdadeiro cristão
sabe do seu dever de contribuir para que a igreja tenha
com que se manter em sua totalidade, isto é, suprir à
medida do possível todas as necessidades enquadradas na
obra de Deus. Deve contribuir para que haja pregação do
Evangelho, para sustento de obreiros (quando for
necessário), para manter o local onde a igreja se reúne,
etc.
Deve contribuir, também, e com grande ênfase,
para que exista assistência ao necessitado. A este assunto
foi reservado um bom espaço, tendo em vista que grande
parte da arrecadação da igreja primitiva era destinada ao
socorro dos necessitados, e que muitos obreiros, hoje, não
ensinam esta doutrina cristã, muito enfatizada na Bíblia.
A igreja primitiva, como possuidora das virtudes
espirituais, era dotada de caridade e colocava o amor em
prática por ensinamento de Jesus Cristo, que diz: “A lei
resume-se em amar a Deus sobre todas as coisas e o
próximo como a si mesmo”. Veja Mt 22.39; Mc 12.31.
Em Lucas 12.33, Jesus ensina dizendo: “Vendei o
que tendes e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não
se envelheçam, tesouro nos céus que nunca se acabe”.
Paulo escrevendo aos Gálatas 5.14 diz: “Toda lei
se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo”. E na sua Primeira Epístola a Timóteo
1.5, diz que o fim do mandamento é a caridade de um
coração puro, de uma boa consciência, e de uma fé não
fingida.
Em 1 João, 4.16, diz que Deus é caridade, e quem
está em caridade está em Deus, e Deus nele.
Alguém pode perguntar: “Mas a obra social faz
parte da principal caridade?” Sim, é a resposta; confira
1 Jo 3.17: “Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o
seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas,
como há nele caridade de Deus?”
Existem líderes religiosos afirmando que a obra
social não agrada a Deus. Este foi um dos motivos que
levaram Pedro a escrever sua Segunda Epístola,
começando este assunto no primeiro capítulo. Do
versículo 1 ao 7, ele instrui a prática da caridade e nos
versículos 8 e 9 ele nos dá o perfil daquele que a tem e
daquele que não a tem: “Porque se em vós houver e
abundar estas coisas, não vos deixarão ociosos nem
estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo:
porque aquele em quem não há estas coisas é cego, nada
vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos
seus antigos pecados”.
Isto prova que a igreja que assim não procede, está
em falta com a obra de Deus, exatamente por falta do
fruto de caridade; enquanto em Gálatas 5.22 diz: “Mas o
fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança”.
A prática da Obra Social sempre foi uma das
principais obras do Evangelho. Além de tudo, esta
caridade tem que ser pura e sem fingimento. Paulo,
escrevendo a Timóteo, diz que o fim do mandamento é a
caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e
de uma fé não fingida (1Tm 1.5). Isto quer dizer: fazer
tudo sem buscar os nossos próprios interesses, ou seja,
sem levar em conta o que a pessoa favorecida pode ou
não fazer em nosso favor.
A recompensa virá do alto: “Eles não tem com que
te recompensar, mas recompensado te será na
ressurreição dos justos”, disse Jesus (Lc 14.14).
Por isto, Paulo escreve a sua Primeira Epístola aos
Coríntios 13.3, dizendo: “E ainda que distribuísse toda a
minha fortuna para sustento dos pobres, e não tivesse
caridade, nada disto me aproveitaria”; e no versículo 5
diz que a caridade não busca os seus próprios interesses.
Encontramos a mesma expressão em Lv 25.37, dizendo:
“Não lhes darás teu dinheiro por usura, nem darás o teu
manjar por interesse”.
Podemos afirmar que o cristianismo, corretamente
compreendido, é a ciência do amor. É impossível ser
revestido de Cristo sem ser dotado do verdadeiro amor.
Por isto, o espírito de caridade acompanha o cristão,
automaticamente. Não existe verdadeiro cristão sem o
verdadeiro amor. E esse amor tem que ser colocado em
prática; por isto João recomenda: “Não ameis em
palavras, mas por obra e em verdade” (1 Jo 3.18).
O verdadeiro cristão tem o Espírito Santo, e por
isto é, obviamente, dotado de caridade; pois está escrito
que o fruto do Espírito é: “caridade, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão,
temperança” (Gl 5.22).
Em 1 João, 4.16, diz que Deus é caridade, e quem
está em caridade está em Deus, e Deus nele.
Muitos têm questionado: “Ora, para que em mim
haja caridade de Deus, não preciso auxiliar na fome, na
sede, na enfermidade ou em qualquer outra necessidade
de alguém, pois isto eu já tenho no coração”. Pois bem, se
alguém se compadece de quem passa por necessidade, e
não pode ajudar, está tudo bem; mas se pode e não ajuda,
nesse não existe caridade de Deus. A Bíblia é clara ao
afirmar: “Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu
irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como há
nele caridade de Deus?” ( 1 Jo 3.17 ).
Está escrito: Amar a Deus sobre todas as coisas; pois
bem; se víssemos Deus com fome, com sede, enfermo ou
com qualquer outra necessidade, prestaríamos atendimento a
Ele? Claro que sim, faríamos isto de imediato! Agora vem
uma pergunta: faríamos isto por amor, ou por egoísmo?...
Não seria unicamente por interesse próprio?... Visando
somente retorno, e não suprir a necessidade de Deus (ainda
que Deus não necessita de nada)?... Não seria somente
buscando proveito em Deus por sabermos que Ele tem poder
para nos retribuir?... Porque se não fizermos o mesmo pelo
nosso irmão, está provado que seria puro egoísmo. Porque a
mesma Bíblia que diz para amar a Deus, também diz para
amar o próximo, o nosso irmão. Por que para Deus faríamos
tudo, mas para o nosso irmão, nada?
Não sabemos que fazer
para o nosso irmão é o mesmo que fazer para Deus, e que
deixar de fazer para o nosso irmão é o mesmo que deixar de
fazer para Deus? É fazendo pelo próximo que realizamos o
nosso amor a Deus. É amando o próximo que Deus se sente
amado por nós. É servindo o próximo que Deus se sente
servido por nós. Quer realizar algo para Deus? Faça pelo
próximo. O nosso amor a Deus se realiza na pessoa do
próximo. É fazendo pelo próximo que fazemos para Deus. É
deixando de fazer pelo próximo que deixamos de fazer para
Deus.
Jesus deu prova desta realidade, ao deixar bem claro
que, no grande julgamento, ao condenar alguém por falta de
caridade, dirá: “todas as vezes que deixastes de fazer a um
destes pequeninos, a mim o deixastes”. E ao dar as boas vindas
ao Reino dos céus pela realização de caridade, dirá:
“Todas as vezes que fizestes a um destes pequeninos, a mim o
fizestes”. ( Mt 25.34-45).
Para mais confirmação deste esclarecimento
devemos lembrar que, ao pregar a entrada no Reino dos
Céus, João Batista chamava a atenção do povo para a
prática da caridade, dizendo: “Toda árvore, pois, que não
dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo”. E a multidão
o interrogava a respeito desse fruto, dizendo: “Que
faremos, pois?” Noutras palavras: “que fruto é esse?”
Então respondendo ele, disse-lhes: “Quem tiver duas
túnicas reparta com quem não tem, e quem tiver
alimentos faça da mesma maneira” (Lc 3.9-11).
Então, amados irmãos, está mais do que provado, à
luz das Escrituras Sagradas, que a assistência aos
necessitados é uma determinação divina, e que o fruto do
Espírito é: “caridade, gozo, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl 5.22).
Por esta gloriosa razão a igreja primitiva investia a
maior parte de sua arrecadação na obra social (na realização de caridade).
Promessas bíblicas Referentes à Obra Social:
1) Sl 41.1-3:
a) Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre;
b) O Senhor o livrará no dia do mal.
c) Será abençoado na terra.
d) O Senhor o sustentará no leito da enfermidade.
e) Tu renovas a sua cama na doença.
2) 2 Pe 2.9:
Assim sabe o Senhor livrar da tentação os
piedosos.
3) Is 1.17-20:
Aprendei a fazer o bem, praticai o que é reto;
ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da
causa das viúvas.
a) Vinde então e argui-me, diz o Senhor.
b) Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a
neve.
c) Ainda que sejam vermelhos como o carmesim,se tornarão como a branca lã.
4) Lc 11.41: Dai antes esmolas do que tiverdes, e eis que tudo
vos será limpo.
5) 1 Pe 4.8:
Mas, sobre tudo, tende ardente caridade uns para com os outros; porque a caridade cobrirá
multidão de pecados.
6) Pv 19.17: Ao Senhor empresta o que se compadece do pobre, e ele lhe pagará o seu benefício.
7) 1 Tm 6.18-19:
a) Que façam bem, enriqueçam em boas obras,
repartam de boa mente, e sejam comunicáveis.
b) Que entesourem para si mesmos um bom
fundamento para o futuro.
c) Para que possam alcançar a vida eterna.
8) At 10.31: As tuas esmolas estão em memória diante de Deus.
Veja ainda: 1 Tm 4.8; Mt 25.34-40; Mt 19.21; 2 Co 9.9.
9) Lc 6.35-36: Emprestai, sem nada esperardes, e será grande o
vosso galardão.
Veja ainda: Ec 11.1-2; Pv 2.29; Pv 28.27; Pv 25.21-22.
10) Sl 112.4-9:
a) Aos justos nasce luz nas trevas; ele é piedoso,
misericordioso e justo.
b) Bem irá ao homem que se compadece e
empresta: disporá a sua causa com juízo.
c) Na verdade que nunca será abalado: o justo
ficará em memória eterna.
d) Não temerá maus rumores; o seu coração está
firme, confiando no Senhor.
e) O seu coração, bem firmado, não temerá, até
que ele veja cumprido o seu desejo sobre os
seus inimigos.
f) É liberal, dá aos necessitados: a sua justiça
permanece para sempre, e a sua força se
exaltará em glória.
11) Is 58.7-11:
Porventura não é também que repartas o teu pão
com o faminto, e recolhas em casa os pobres
desterrados? E, vendo o nu, o cubras, e não te
escondas da tua carne?
a) Então romperá a tua luz como a alva.
b) A tua cura apressadamente brotará.
c) A tua justiça irá adiante da tua face.
d) A glória do Senhor será a tua retaguarda.
e) Então clamarás, e o Senhor te responderá.
f) Gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui.
g) A tua luz nascerá nas trevas.
h) A tua escuridão será como o meio-dia.
i) E o Senhor te guiará continuamente.
j) E fartará a tua alma em lugares secos.
k) Fortificará teus ossos.
l) E serás como um jardim regado.
m) É como mananciais, cujas águas nunca faltam.
12) Lc 6.38:
Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada,sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço.
Ao concluir este capítulo, quero salientar que a obra
de caridade não se limita em saciar a fome, matar a sede,
agasalhar; mas sim em tudo que o nosso próximo necessitar:
Se fome, comida; se sede, bebida; se despido, agasalho; se
enfermidade, medicamento; se solidão, convivência fraternal;
etc., conforme está escrito:
“Comunicai com os santos nas suas necessidades”
(Rm 12.13).
Paz seja com todos,
JC de Araújo Jorge