O verdadeiro cristão, por ser cheio do Espírito Santo é, obviamente,
dotado do Seu fruto que é: amor, bondade, benignidade, justiça, generosidade etc., o qual, sem dúvida, lhe proporciona condições para determinar o valor com que deva contribuir, dispensando assim o percentual padronizado pela lei.
Quando deparamos com a orientação do apóstolo Paulo, dizendo:
“Cada um contribua segundo propôs no seu coração”
(2Co 9.7), sem dúvida compreendemos que está individualizando o valor ou o percentual de contribuição, ou seja, deixando o percentual a critério do propósito e das possibilidades de cada um.
A intensidade do amor pela obra de Deus e as possibilidades financeiras determinam o percentual que cada cristão deva contribuir.
Na matemática divina, com certeza o valor espiritual da contribuição é levado em conta, também, pelas possibilidades financeiras de cada um e não somente pelo percentual que contribui.
Às vezes, neste caso, um percentual de contribuição menor de um contribuinte pode se tornar mais valioso diante de Deus do que um percentual maior de outro.
Por exemplo: 5% de um que ganhou pouco, pode significar muito mais do que 15% de outro que ganhou muito.
Neste caso podemos comparar com a parábola de dois chefes de família: um ganhou U$ 5.000,00; deu 15% (U$750,00), sobraram então U$4.250,00. Os 15% que contribuiu não lhe privaram de boa alimentação, do uso de um bom carro etc. etc.
Enquanto o outro ganhou um salário de U$100,00. Ao pagar suas despesas necessárias como: água, luz, armazém etc., cujas despesas somaram U$95,00; isto porque gastou somente o suficiente para que sua família não desfalecesse de fome.
Não podemos dizer que sobrou, porque lhe faltavam muitas outras coisas, porém, ficaram U$5,00 (equivalente a 5% do que ganhou).
Havia um plano familiar para comprar com aquele salário, um lápis novo para o filho que estudava, um calçado por mais simples que fosse para a esposa, e uma camisa de trabalho para aquele chefe.
Eram para eles produtos de primeira necessidade; entretanto, ao orarem para agradecer a Deus pelo salário, lembraram-se que a Sua obra carecia muito da contribuição deles; então, sentindo arder em seus corações um profundo amor pela obra de Deus, decidiram concordemente abrir mão de comprar o que precisavam, e então, cheios de amor, ofertaram à obra de Deus aqueles 5%, com alegria e propósito de coração.
Diante desta parábola, vem a seguinte pergunta: qual desses dois chefes de família contribuiu mais diante de Deus?
Certamente, se o leitor for espiritual, responderá que foi o que deu 5%, pois era tudo o que tinha para suprir as demais necessidades da família.
O texto que narra a história da viúva pobre (Mc 12.41-44) declara que aquela pequena quantia que dera, era tudo que tinha para o seu sustento.
Porém o próprio Jesus testemunhou o grande valor da sua oferta, dizendo:
“em verdade vos digo que, esta pobre viúva, deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento”.
Aquelas pequenas moedas que a viúva deitou na arca do tesouro, talvez não traduzissem 10% do que ganhara, pois eram muito pequenas, mas, quem sabe, ao saldar seus compromissos, foi o que ficou para o seu sustento.
Alias, falando em saldar compromissos, acho oportuno mencionar que têm até obreiros, por aí, ensinando os fiéis a deixar a sua dívida pendente no comércio para poder pagar o dízimo, com pretexto de que pela fé pagará a sua dívida.
Mas, tal ensinamento não procede do Espírito Santo, porque o verdadeiro cristão, por mais pobre que seja procura ser pontual com seus compromissos. Pois a esse respeito está escrito:
“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vós ameis uns aos outros” (Rm 13.8).
E ainda:
“Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta e em laço do diabo” (1Tm 3.7).
A fidelidade em honrar todos os nossos compromissos faz parte da justiça dos salvos. No sermão da montanha, Jesus declarou: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt 5.6).
Paulo repreende os obreiros que não andam de acordo com estes ensinamentos de Cristo, dizendo:
“Se alguém ensina alguma outra doutrina, e não se conforma com as palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo, e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimentos e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho, aparta-te dos tais.
Mas é grande ganho a piedade com contentamento.” (1Tm 6.3-6), e no versículo 10 do mesmo capítulo, ele diz:
“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males, e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”.
Portando, instruir o povo cristão a ficar devendo no comércio para poder pagar o dízimo, significa: amor ao dinheiro e provocação à raiz do mal. Isto não é nada mais nada menos do que cobiça, desonestidade, e corrupção de fé. Deus abomina esse tipo de doutrina.
Será que, se tais doutrinadores fossem proprietários dos comércios nos quais os seus discípulos fossem devedores, continuariam com seus equivocados ensinamentos? Deixemos esta pergunta no ar.
A fé não serve de fundamento para lançar mão do dinheiro que devemos no comércio para poder pagar o dízimo. Se realmente temos fé, devemos usá-la para não contrairmos nenhuma dívida acima das nossas possibilidades.
Se a fé nos capacitasse para a prática de mandamentos carnais, a salvação não seria pela graça, mas sim pelas obras da lei. Mas como disse Paulo:
“Não aniquilo a graça de Deus; porque se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gl 2.21).
Se confiarmos na nossa capacidade no que tange a guarda de qualquer ponto da Lei, estamos pisando o Filho de Deus, profanando o sangue da Nova Aliança, e fazendo agravo ao Espírito da Graça.
Veja o que o escritor da Epístola aos Hebreus diz sobre o julgamento de quem comete tal erro:
“Quebrantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia só pela palavra de duas ou três testemunhas, de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10.28-29).
A espontaneidade para contribuir, e a liberdade para que o percentual seja determinado pelas possibilidades e propósito de coração, são características proporcionadas pelo Espírito da Graça. Ao contrario, estaríamos aniquilando a Graça de Deus. Por esta razão lemos em Gálatas 2.21:
“Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde”.
A fé para salvação pela Graça de Cristo, tem como primeiro requisito o reconhecimento da nossa incapacidade; e como segundo, a confiança que Cristo já cumpriu toda a Lei por nós (Mt 5.17).
Existem muitos se gloriando, batendo no peito e dizendo: “Pela fé sou dizimista”. Isso expressa confiança na carne, não aceitando a incapacidade humana; e isso é abominação diante de Deus. Devemos tomar o exemplo de Paulo, que diz: “Longe esteja de mim, gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6.14).
Deus não nos deu capacidade para que pela fé guardássemos leis de mandamentos carnais; mas Deus nos deu capacidade para que pela fé cumpríssemos a lei da liberdade que há em Cristo Jesus , a qual podemos chamar de “Lei de Cristo”:
“Não estamos sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo” (1 Co 9.21).
A lei de Cristo é a lei da liberdade. Em termos de contribuição financeira, existe lei para contribuir, mas não existe lei preestabelecida para o percentual.
O percentual varia de acordo com as possibilidades de cada um, segundo a orientação de Paulo aos coríntios, quando diz:
“Conforme a sua prosperidade” (1Co 16.2), ao contrário, não seria lei da liberdade.
É o que aprendemos acima, na comparação das contribuições dos dois chefes de família.
De outra maneira, Jesus não precisaria nos ter oferecido um “Jugo suave e um fardo leve” (Mt 11.30).
Isto nos ensina que bater no peito, dizendo que guarda a lei do dízimo, é fazer agravo ao Espírito da Graça. Muitos, além de se gloriarem na prática da lei do dízimo, ainda acusam aqueles que contribuem pela lei da liberdade, chamando-os de ladrões e injustos; termos estes, usados na lei mosaica (Dt 27.26; Ml 3.9).
Na parábola do “fariseu e do publicano”, entende-se que o fariseu confiava na prática dessa lei para gloriar-se e acusar os outros de não serem dizimistas, chamando-os de roubadores quando dizia:
“Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.
Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Lc 18.11-12).
Contudo o fariseu tinha mais moral de acusar os outros de não dar o dízimo, do que qualquer cristão.
Porque o fariseu era regido pela lei mosaica, apesar de não ter condição de guardá-la, conforme está escrito: “Não existe um justo, nem um sequer” (Rm 3.10), porém o cristão não tem o direito de cobrança dessa lei, quando está livre da mesma.
Pois não deve praticá-la, nem exigir que cristão algum à pratique. A salvação do cristão não vem pela prática da lei, mas pela justiça da fé, em Cristo Jesus , conforme está escrito:
“Mas, aquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” (Rm 4.5).
A Lei dada por intermédio de Moisés, chamada Lei de mandamentos carnais, não aceita a impossibilidade humana, mas exige a sua prática na íntegra. Esta confirmação encontra-se em Tiago 2.10:
“Aquele que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos”.
Isso quer dizer que a Lei não justifica, mas cobra. É quando a Bíblia diz: “Porque a força do pecado é a lei” (1Co 15.56); e a fragilidade humana não resistindo a cobrança da Lei, acaba ficando debaixo da maldição (Ml 3.9).
Pois, é exatamente a incapacidade humana que torna essa Lei em: “Ministério da Morte” e “Ministério da Condenação” (2Co 3.7-9).
Mas, a salvação alcançada pela Graça que há em Cristo Jesus , vem ao encontro da incapacidade humana, não cobrando, mas sim justificando pela fé, conforme está escrito:
“Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus ” (Rm 3.24).
Então entendemos que esta gratuidade pela Sua misericórdia nos dispensa do percentual que vem pela lei, deixando livre a contribuição do cristão, para que a faça dentro das possibilidades e com propósito de coração (2Co 9.7; 1Co 16.2).
Portanto, Concluímos que a doutrina da salvação pela Graça que há em Cristo Jesus , ensina a contribuir livremente e por propósito de coração; enquanto a doutrina que vem pela ordenança da Lei, ensina a cumprir percentual.
Paz Seja Contigo!